quinta-feira, 10 de abril de 2014

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HAIKAI DE PARACURU
um lagarto do mar
na direção do vento vai
se alimentar de areia

HAIKAI DO PICOLEZEIRO I
todo verão a esperar
picolé chamado José
acaba de chegar

HAIKAI DO PICOLEZEIRO II
primavera chegar
picolé chamado José
quem quer quem quer comprar

HAIKAI
o néctar do beijo
de flor em flor, borboleta
colhe e dissipa
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HAIKAI DA MARIA I
aniversário passou
velas acesas velas apagadas
independente de data

HAIKAI DA MARIA II
sem tempo ou distância
perto longe só uma instância
o livro me ensinou
 
HAIKAI DA MARIA III
a amizade ficou
independente de tudo
como um bem sortudo

haikai da maria i

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Do meu próprio punho

Do meu próprio punho
da minha própria cabeça pensante
no instante mesmo
em que me vejo
mais uma vez
pensando em tanta coisa
que quero
preciso
desejo
lhe falar com palavras escritas
ditas
ditadas com o coração
pensadas com a cabeça prenhe de ideias

dizer da delícia que é
ser sua
ter o seu amor
a sua companhia
dormir sentindo o calor do seu corpo
colado ao meu
acordar e ver que a realidade se impõe
além do sonho
e você, ainda a dormir,
está mesmo
de carne e osso
ali ao lado

sentir sua respiração calma
ver sua expressão serena, tranquila
de alguém totalmente entregue ao sono
confiante no amor de alguém
com quem divide a cama, a noite, a vida

Vida a que
você trouxe sorriso
alegrou

Vida a que
você deu cor
coloriu

Vida a que
você deu luz
iluminou


SOBRE A ARTE
A arte não tem compromisso com a sanidade
A arte é a loucura que se manifesta
Em tons, cores e formas
como frutos dos desvarios
de mentes em delírio.


A arte não tem compromisso com a realidade
a arte é a manifestação do sonho
passado vivido sentido
no limiar da loucura em que mergulha
o gênio no ato de criar


a arte não tem compromisso com a verdade
a arte é a mentira travestida
contada em verso proza
esculpida em pedra
reinventada em cores
dores ardores amores
no ato de criar






Amável Sobrinha


AS QUATRO ESTAÇÕES
Se envelheço
não me apercebo
esqueço
não vejo
não vi

Vivo como se ainda fosse
primavera
quem dera o outono
não sucedesse o verão
e o frio inverno não trouxesse
o vento
a chuva
o nevoeiro
que o espelho
mostra os sinais
muitos verão
já viram
veem
só eu
não

Me vejo com os olhos da alma
rejuvenescida
ainda em plena primavera
esperando o sol chegar
para viver
outras estações.





Jardineiro Sonhador
Diante da imensa beleza 
 
Daquela flor em botão

Eu me fiz jardim

 
Cultivador

Acolhedor


Jardineiro de mim
 
Mesmo

Cuidador

Sonhador

 
Sonhando a esmo 
  
Em ser um dia

Possuidor 
 
De toda aquela beleza 
 
Que irá desabrochar

Só para mim




Aquela carta

Lembra daquela carta
Aquela tal que não foi escrita
(Mais que foi lida)?

Ainda grita ao meu ouvido
Pedindo pra passar
Da minha cabeça
Direto para o papel
Tudo que o coração sente
E o corpo treme de emoção
Só de pensar
Mas que a boca não tem
Coragem de revelar

Como se fosse mais fácil
Gravar em tinta
Na branca superfície
Retangular
Por sobre a horizontalidade
De tênues linhas pretas
Com todas as letras
Esse sentimento profundo
Que em todo o mundo
Não existe igual

Ele ainda vai pousar um dia
Naquela tal que não foi escrita
Como se fosse
Vento de temporal
O mar batendo no penhasco

Ou na calma de um dia sereno
No ritmo da chuva de inverno
Batendo na vidraça
Achando graça de tudo
De cara pro mundo
No orgulho que estufa o peito
E esquenta o leito
Feito para se aninhar
Como passarinhos
Alegres a arrulhar

Juro que ainda vai ser escrita
Essa bendita!



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A CARTA
A carta que não foi escrita
Mas foi lida

Na passagem para o sonho


medonho

estranho

maldito


Conteúdo alterado

O contrário do que

foi pensado

e não dito


como um grito 
 
dado para dentro

no avesso


Estremeço 
 
com o pensamento 
 
de que no sonho


medonho

estranho

maldito


quem a leu

possa ter sido 
  
também

quem a concebeu.




HAIKAI

nas manhãs de chover
por entre nuvens pesadas
sol quer aparecer


Vergonha nacional

Eu sou a vergonha nacional
Eu sou a tal

A tal Ovelha Negra
Que mata de vergonha
A nação família

Filha, pai, mãe, sobrinha, tia, irmã
O clã inteiro
Sonha ver no espelho
A imagem esperada
Desejada

Basta uma pedrada
Ele quebra em mil pedaços
Nos cacos espalhados pelo chão
Da família envergonhada
Pode-se ver os reflexos

Sem nexos
Sem sexos
Nada de amplexos

Sem complexos
de(s)culpa
Eu quero mesmo ser a vergonha

Para quem não viveu 
 
E tenta impedir 
 
Que a vida sorria
 
Para quem 
 
Eterno aprendiz

Feliz 
 
Não tem medo de ser

de viver

por um triz

Nascer
Morrer
Nada mais natural!